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Muito além da eficiência: os riscos estratégicos que ninguém está discutindo

Recentemente, o iFood anunciou a adoção do modelo GPT-4.1 para aprimorar seus serviços de delivery.
A decisão promete aumentar a velocidade, a precisão e a eficiência da operação logística da empresa.
Em um mercado cada vez mais competitivo, investir em inteligência artificial generativa é, sem dúvida, um movimento natural.

No entanto, o impacto dessa decisão vai muito além dos ganhos imediatos.

A adoção de modelos de IA proprietários de terceiros para processos críticos revela uma mudança silenciosa, porém profunda, na arquitetura de dependências estratégicas das empresas de tecnologia.


Eficiência no curto prazo, dependência no médio e longo prazo

No curto prazo, o uso do GPT-4.1 permite ganhos significativos: entregas mais rápidas, roteirização otimizada, maior capacidade de resposta às demandas dos clientes.
O risco que muitas empresas negligenciam, no entanto, é o que acontece a partir do momento em que essa inteligência operacional passa a ser construída fora dos seus próprios domínios.

A cada interação mediada pela IA, a organização transfere parte do seu “cérebro logístico” para um modelo que não controla integralmente.
Não é apenas uma questão de possíveis falhas ou imprecisões ocasionais.
O verdadeiro risco é estrutural: a perda gradual da capacidade interna de interpretar, otimizar e evoluir seus próprios sistemas de decisão.


A inteligência dos dados também muda de mãos

Outro ponto sensível é que a inteligência derivada dos dados — padrões de consumo, comportamento dos usuários, roteirizações ideais — passa a ser interpretada por uma plataforma externa.
Essa interpretação gera insights que beneficiam o funcionamento imediato do serviço, mas o modelo utilizado também aprende com esses dados.

Esse ciclo pode, ao longo do tempo, criar uma assimetria: a empresa executa, mas o verdadeiro aprendizado estratégico pode estar ocorrendo fora dela.


A inovação exige consciência estratégica

O movimento do iFood é, sem dúvida, corajoso.
Mas também evidencia a necessidade urgente de que a inovação tecnológica venha acompanhada de uma visão crítica sobre autonomia, soberania de dados e construção de inteligência própria.

Empresas que desejam permanecer competitivas não podem se limitar a adotar tecnologias de ponta.
Precisam desenvolver planos de autonomia tecnológica: alternativas, estratégias de internalização, e capacidade de transição se — ou quando — a dependência se tornar uma ameaça à operação.


Conclusão

Adotar IA de última geração é, hoje, uma obrigação competitiva.
Mas construir resiliência estratégica continua sendo o verdadeiro diferencial das empresas que não apenas inovam, mas também constroem futuros sustentáveis.

A transformação digital não se resume a adotar tecnologias exponenciais.
É sobre garantir que sua capacidade de evoluir continue sendo sua.


Publicado por Tech Fernandes
Especialistas em Estratégia de Dados, Inteligência Artificial e Transformação Digital

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